A leveza era fruto do não-futuro. Da certeza que o combinado tinha prazo de validade.
Então, durante aqueles dias eles foram namorados. Namorados apaixonados, com tudo o que tinham direito: telefonemas bobos, carinhos fora de hora, cenas de ciúme inventadas, fim de tarde no parque, cinema de mãos dadas... Ela gostou de assistir o filme com a cabeça encostada no ombro dele. Pareciam dois bobos, tudo era motivo pra rir. Ele dizia que gostava da risada dela.
Com ele, não era preciso fazer pose, colocar banca, dar uma de recatada. Ela sabia que ele iria embora. Logo, ele iria pegar um avião e toda aquela história não poderia mais ser vivida, só lembrada.
Talvez por isso, ela não tivesse medo de se mostrar, de se permitir, de viver. Talvez por isso, ela não se apegasse aos defeitos que enxergava nele.
Deve ter sido por isso que ela não queria perder tempo. Queria viver tudo o que aquela história poderia ser. Queria ter um estoque de boas lembranças para usar quando a distância não permitisse mais.
Eles tinham o perfeito encaixe. Mãos, braços, pernas, boca... Ela se perdia em meio a tantos carinhos. E desejava. Não entendia o porquê, mas desejava aquele homem. Esquecia do mundo nos braços dele. E não queria mais nada...Entregue, inteira, suada e leve. Sentindo seu corpo misturado ao dele. As pernas enroscadas depois do amor. O silêncio trazia perfeição para o momento. E foi esse momento que ela quis guardar: as pernas enroscadas, o contraste da pele dos dois, molhados de suor. A mão no peito dele, sentindo a respiração acalmar...
Chegou a hora dele ir. Ela sempre foi boba para despedidas. Mas dessa vez não teve drama. Ele vestia uma roupa que não era o estilo que ela gostava (ele ficava parecendo mais velho que era). Ele disse meia dúzia de besteiras que a deixou irritada. Deve ter sido para lembrá-la que o prazo de validade estava se esgotando e que consumir algo fora do tal prazo faz mal pro coração.
Então, ela fez questão de olhar bem pra ele e dizer o quanto tinha sido bom ser a namoradinha por aqueles dias.
Entrou no carro e, diferente das outras vezes, saiu cantando, feliz por ter se permitido.