Ela costumava andar de carro sem rumo, olhando a paisagem, a cor do céu e de tudo o que passasse pela frente.

Apesar de ter seus segredos, ela é transparente. É fácil ver naqueles olhos a confusão de sentimentos e pensamentos...

Gosta de água, de mar, de cachoeira, pra lavar o corpo e a alma, pra olhar e acalmar.

Gosta de cantar pra dizer tudo o que queria e não consegue, não pode

Ela gosta do cheiro do arroz que a mãe faz, que ela come quentinho, na panela, antes de ficar pronto.

É desconfiada, bicho-do-mato, difícil de chegar, difícil de deixar...

Nada nela é meio-termo, a intensidade que ela não consegue controlar é seu norte

Se recolhe e se joga ao mundo diversas e diversas vezes.

Gosta de cuidar e de ser cuidada

É boa e má, safada e recatada, doce e amarga

Ela procura e procura e na procura se perde, se enrosca, se prende, ama, chora, ri e sofre

E continua andando, não desiste

Tem valores que não abre mão.

"A vida tem que valer a pena. Não vou viver o mais-ou-menos."

Tem dificuldades pra decidir, pra deixar o velho pra trás, pesa os prós e os contras milhares de vezes

Mas quando decide, é radical.

Não deixa que os outros digam pra onde ela deve ir

Tem orgulho por escrever sua história, por escolher seus caminhos

Ela segue em frente e seu desejo é ser feliz

Queria ajuda pra achar alguém

Pegava na minha mão e acreditava em mim

Eu olhava pra ele e via algo meu, não sei dizer o que.

Mãos pequenininhas, macias...

Os olhos doces, cheios de confiança...

Uma voz gostosa que me deixou tão leve

Acordei chorando, mas a sensação era boa... A vontade era a de dormir de novo pra ter ele por perto.

Fiquei me perguntando o que ele veio me dizer dessa vez.

Acho que ele apareceu pra dar alguns recados: pra acalmar meu coração, pra eu ter certeza que ele vem e pra me dizer que é preciso confiar.

Dor pelo que poderia ter sido e não foi

Dor pelo que nunca será

Dói ver tudo-de-novo-outra-vez.

A pergunta era: O que você vai fazer com o resto da sua vida? Ele não soube responder e eu fiquei me perguntando... O que eu vou fazer com o resto da minha vida?

Sigo em frente sem conseguir fazer planos. Pensar a longo prazo me incomoda demais. O máximo de planejamento são seis meses. Sei que isso acontece por conta da dor pelos planos desfeitos, pelos planos não realizados. Saber disso não resolve meu problema. A pergunta que eu sufoco insiste em soprar nos meus ouvidos... O que eu vou fazer com o resto da minha vida?

Desliguei a TV na tentativa de não pensar no assunto, peguei um livro e apareceu mais uma vez a questão que não quis calar durante todo o fim de semana. No livro, o terapeuta pede a sua cliente que trace uma linha e marque em que ponto está a vida dela. Ela faz o que ele pede e ao marcar o X, percebe que ¾ da vida dela se passou sem que ela tivesse feito o que gostaria. Ela percebe que a vida dela está escorrendo pelos dedos e que ela não consegue realizar o que quer.

De novo, a pergunta: O que eu vou fazer com o resto da minha vida?

Eu não sei a resposta. E sinto angústia por não saber. Não consigo ter grandes ambições, não consigo querer muito qualquer coisa. Não consigo imaginar o que me faria querer mais. Não no cenário em que vivo. Até consigo imaginar o que faria diferença na minha vida. Já abro mão de sonhos antigos, não sei se eles se realizarão. Tento achar soluções, objetivos a atingir e não encontro. Tento me agarrar ao que passa pelo meu caminho, mas são coisas, relações e pessoas frágeis, que não tem como sustentar o meu desejo.

Sei que continuo caminhando só. Com várias pessoas ao redor, mas só... O que não é necessariamente ruim... Quem falou que pra seguir em frente precisa de dois?

Olho pra trás e vejo o quanto já caminhei. Consigo perceber os momentos de parada pra tomar fôlego. Consigo ver os que me deram a mão e me ajudaram a seguir em frente. Consigo me orgulhar das escolhas que fiz, mesmo que não tenham me levado para onde imaginei.

A diferença é que o tumulto passou, a angústia ficou pra trás. Novas possibilidades aparecem no horizonte.

A vontade que eu tenho é soprar no ouvido do autor o caminho que eu quero dar a cada uma das histórias.

Se eu pudesse fazer isso, eu faria com que o mocinho se desvencilhasse de todos os laços que o impedem de ficar com a mulher forte e frágil, que encontrou o amor que procurava há tanto tempo. Eles poderiam se mostrar pro mundo, sem receios de viver plenamente o amor que sentem. Talvez eles enfrentassem dificuldades, mas caminhariam juntos, segurando as mãos e seguindo em frente. Seria bonito ver que o amor é maior, que existe força pra se deixar de lado o que não traz mais a felicidade, que alguém ainda se arrisca por acreditar que o amor vale a pena.

Se eu pudesse fazer isso, o sumido iria reaparecer, com novos textos e sua risada ia fazer a mocinha sorrir de novo e esquecer pela milésima vez tudo o que sofreu porque o amor que mora no peito dela é grande demais pra se lembrar disso. Eles iam se olhar, se abraçar, beijar, rir, amar sem pensar em depois, em futuro... Ela iria aproveitar a presença, beber cada minuto da companhia dele. Eles iriam achar um jeito de viver esse amor de uma forma livre, sem amarras, sem fronteiras.

Se eu pudesse fazer isso, o mocinho iria parar de falar e fazer. Ele deixaria pra trás a covardia e as intermináveis ligações, pegaria um avião e viria encontrá-la. Ele pediria perdão e ela poderia dar uma nova chance para o grande amor que ela tentou matar, substituir, trocar e não conseguiu. Ela olharia no fundo daqueles olhos verdes e não resistiria porque todo o amor que vive preso no coração dela viria com força total. Eles seriam um só, felizes. Ela poderia fazer todos os dias o que eles sonharam: eles sairiam juntos para o trabalho, ela ajeitaria o nó da gravata dele, daria um beijo, diria eu te amo, até mais tarde... e o mais tarde chegaria antes do que ela espera.