Tinha um rosto conhecido do outro lado do balcão.
Sem óculos, não dava pra ter certeza.
Mas acho que aquele ali tinha feito parte da minha vida.
Volto pra mesa: "parece que tem um cara que eu namorei bem ali"
E quem enxerga, confirma.
É ele mesmo.
Ele foi o meu pedido realizado, do jeitinho que tinha feito. Pra me ensinar a pedir direito. Pra entender que toda aquela bobagem que eu pedia não faz o menor sentido quando se trata de amor.
O mocinho que entendia de vinhos, que adivinhava meus desejos, que decidia onde me levar sem me perguntar onde eu queria ir e que sempre acertava. Mas também, o mocinho que bebia demais e virava um chato arrogante, que tinha mania de perseguição e sumia no mundo porque alguém queria matá-lo. O mocinho que me ensinou a gostar de comida japonesa e vinho tinto seco, me fez plantar trezentas orquídeas num domingo de sol. O mocinho que fazia corações no meu caderno da pós, que sentava naquela cadeira baixa e passava a noite estudando do meu lado. E quando dava tilte, sumia no mundo, viajava sem dar notícias nem atender o telefone.
Ele mesmo. Um pouco mais velho, um pouco mais gordo.
"A cara do pai da Brigit Jones"
Coração nem acelerou.
Estranho... sensação esquisita.
Comentário na mesa: "ainda vou ter esse ar blasé quando vir um ex por aí"
Foi aí que o peito apertou.
Toda aquela indiferença é porque não era você.
O tempo é esquisito. Por vezes cicatriza o passado e paralisa o sentimento. Em outros casos, o tempo pode passar que o coração sempre acelera, mesmo sendo ex ou coisa de águas passadas.